quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

(Não) Saber Ser Portista

Cresci a ver o Futebol Clube do Porto vencer. Nasci pouco antes de o Clube disparar para a conquista de grande parte dos seus troféus. Sou, portanto, um privilegiado da “nova guarda”, ou, então, um veterano da mesma. Nunca passei mais de três anos sem ver o meu Clube vencer um Título Nacional, e já o vi por quatro vezes levantar um caneco europeu.

Estou mal habituado. Nunca passei por um acto de fé como os meus contemporâneos amigos benfiquistas e sportinguistas. Nem eu, nem grande parte dos portistas. Mas algo em mim me diz que se tiver que passar por tal, o vou fazer estoicamente.

O Futebol Clube do Porto é o meu Clube, que desde cedo adoptei como um amor daqueles que é para toda a vida. E como todo o amor deve ser, é incondicional. Amo o meu Clube. Quero que vença, quero que cresça, quero que atinja toda a glória que um Clube pode alcançar. Quero-o.

Esse amor nem sempre foi o mesmo, foi crescendo. Nunca diminuiu. Foi sendo cimentado com a História das suas conquistas e de quem o serviu. Do carácter, da abnegação de quem dava um chutos numa bola como se o futuro da Humanidade dependesse de vencer uma mera partida de Futebol. De quem vivia o Clube como ou mais que eu, e suava para vencer e para dar vitórias às cores que representava.

Olho para trás e vejo com alguma nostalgia que o sentimento de ser Porto desapareceu. Ou melhor, diminuiu para um nível nunca visto. Vivemos numa época em que o Futebol dá muito dinheiro e se tornou muito mais um negócio que um Desporto. E eu quero voltar para trás. Quero voltar ao tempo em que um jogador não tenha medo de meter o pé, e que uma dorzinha não seja motivo de inúmeras paragens ou lamúrias. Quero voltar ao tempo em que quem veste a camisola lute por ela como se fosse a sua pele.

Mas agora... A equipa não tem fio de jogo? Certíssimo. Os defesas estão sempre a meter água? Verdade insofismável. A equipa não é solidária? Parece que não. [panóplia de questões ao rendimento da equipa...]

Não estou, portanto, satisfeito com o estado actual das coisas. Mas que posso eu fazer? Apoiar. É a única coisa que eu posso fazer. Estar lá. Ajudar a encher o estádio, incentivar a equipa, gritar “VAMOS!” quando nem estou com grande vontade de o fazer, imaginar no momento em que o André André cabeceia a bola que a redondinha já lá mora, ou ceder a qualquer acto de superstição que a já algo insana da cabeça insiste que ajuda. E quando não consigo arranjar nada que ajude, calo-me. Mas não assobio.

Causa-me por isso, bastante estranheza, ver o panorama actual. Adeptos que acham que o Clube tem obrigação de vencer e que apupam, assobiam, mostram lenços brancos achando que isso vai ajudar alguma coisa. Todos temos direito à contestação, a não gostar, mas achar que sistematicamente assobiar o Clube que dizem amar ajuda em alguma coisa é no mínimo parvo, e esses adeptos devem-se interrogar se realmente amam o Clube ou se só lá estão porque gostam de ganhar e esfregar na cara dos outros essas vitórias. O Clube não vos deve nada, nem tem a obrigação de tornar o vosso dia melhor. Se não conseguem apoiar, calem-se. Se não querem ser parte da solução, não sejam parte do problema. Sejam Portistas!


Sem comentários:

Enviar um comentário