Cresci a ver o Futebol Clube do Porto vencer. Nasci pouco antes de o Clube
disparar para a conquista de grande parte dos seus troféus. Sou, portanto, um
privilegiado da “nova guarda”, ou, então, um veterano da mesma. Nunca passei
mais de três anos sem ver o meu Clube vencer um Título Nacional, e já o vi por quatro
vezes levantar um caneco europeu.
Estou mal habituado. Nunca passei
por um acto de fé como os meus contemporâneos amigos benfiquistas e
sportinguistas. Nem eu, nem grande parte dos portistas. Mas algo em mim me diz
que se tiver que passar por tal, o vou fazer estoicamente.
O Futebol Clube do Porto é o meu
Clube, que desde cedo adoptei como um amor daqueles que é para toda a vida. E
como todo o amor deve ser, é incondicional. Amo o meu Clube. Quero que vença,
quero que cresça, quero que atinja toda a glória que um Clube pode alcançar.
Quero-o.
Esse amor nem sempre foi o mesmo,
foi crescendo. Nunca diminuiu. Foi sendo cimentado com a História das suas
conquistas e de quem o serviu. Do carácter, da abnegação de quem dava um chutos
numa bola como se o futuro da Humanidade dependesse de vencer uma mera partida
de Futebol. De quem vivia o Clube como ou mais que eu, e suava para vencer e
para dar vitórias às cores que representava.
Olho para trás e vejo com alguma
nostalgia que o sentimento de ser Porto desapareceu. Ou melhor, diminuiu para
um nível nunca visto. Vivemos numa época em que o Futebol dá muito dinheiro
e se tornou muito mais um negócio que um Desporto. E eu quero voltar para trás.
Quero voltar ao tempo em que um jogador não tenha medo de meter o pé, e que uma
dorzinha não seja motivo de inúmeras paragens ou lamúrias. Quero voltar ao
tempo em que quem veste a camisola lute por ela como se fosse a sua pele.
Mas agora... A equipa não tem fio de jogo?
Certíssimo. Os defesas estão sempre a meter água? Verdade insofismável. A
equipa não é solidária? Parece que não. [panóplia
de questões ao rendimento da equipa...]
Não estou, portanto, satisfeito
com o estado actual das coisas. Mas que posso eu fazer? Apoiar. É a única coisa
que eu posso fazer. Estar lá. Ajudar a encher o estádio, incentivar a equipa,
gritar “VAMOS!” quando nem estou com grande vontade de o fazer, imaginar no
momento em que o André André cabeceia a bola que a redondinha já lá mora, ou ceder
a qualquer acto de superstição que a já algo insana da cabeça insiste que
ajuda. E quando não consigo arranjar nada que ajude, calo-me. Mas não assobio.
Causa-me por isso, bastante
estranheza, ver o panorama actual. Adeptos que acham que o Clube tem obrigação
de vencer e que apupam, assobiam, mostram lenços brancos achando que isso vai
ajudar alguma coisa. Todos temos direito à contestação, a não gostar, mas achar
que sistematicamente assobiar o Clube que dizem amar ajuda em alguma coisa é no
mínimo parvo, e esses adeptos devem-se interrogar se realmente amam o Clube ou se
só lá estão porque gostam de ganhar e esfregar na cara dos outros essas
vitórias. O Clube não vos deve nada, nem tem a obrigação de tornar o vosso dia
melhor. Se não conseguem apoiar, calem-se. Se não querem ser parte da solução,
não sejam parte do problema. Sejam Portistas!